segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Outra entrevista com mano. Esta mais abrangente

14/01/2008 - 08h20m

Mano projeta ‘feijão-com-arroz’ no início

Em conversa com o GLOBOESPORTE.COM, ele diz que a parte ofensiva será prejudicada
Marcel Rizzo Marcel Rizzo Do GLOBOESPORTE.COM, em Itu (SP) entre em contato

Nelson Coelho
Diário de S.Paulo
Com 12 contratações, Mano Menezes sabe que terá de entrosar o Timão

O técnico Mano Menezes manda um recado aos torcedores corintianos: não esperem goleadas neste início de temporada. Com 12 novos jogadores no elenco, sete deles vão começar o ano como titulares, como apontou o jogo-treino realizado contra a Internacional de Limeira no último final de semana. Ou seja, um time desentrosado. E por isso o treinador corintiano diz que a ação ofensiva será prejudicada. O Timão que inicia 2008 fará o feijão-com-arroz, aponta Mano.

O treinador conversou na manhã do domingo com a reportagem do GLOBOESPORTE.COM no hotel em que o Corinthians faz a pré-temporada, na cidade de Itu, a 100 km da capital paulista. Gaúcho da pequena Pasto Sobrado, Mano chegou a São Paulo com a fama de todo treinador do Rio Grande do Sul: linha-dura. Mas no bate-papo, que durou cerca de 40 minutos, o técnico apontou ser adepto ao diálogo com seus jogadores. Só não tolera baladas, festinhas e excessos... Veja os principais trechos da entrevista:

GLOBOESPORTE.COM: O Corinthians contratou 12 jogadores. Normalmente, quando um clube reformula o elenco desta maneira tem dificuldades, como foi o caso do próprio Timão em 2004, em época pré-MSI. Você vai ter esse problema para encaixar o time?
MANO MENEZES:
Com certeza. A troca foi necessária, por causa da campanha ruim no ano passado (com o time rebaixado para a Série B do Brasileiro). Alguns jogadores já iniciariam o ano pressionados e isso seria ruim. Por isso tomei a decisão de escolher, neste primeiro momento, atletas que conheço melhor e sei o que podem render. Não temos a ilusão de que nas primeiras rodadas teremos um time montado. Se dermos sorte, não precisarmos mexer muito no time, seja por suspensão ou lesão, esse tempo fica mais curto.

Qual o principal problema desta troca em massa de jogadores dentro de campo?
Com um time desentrosado, a parte ofensiva fica prejudicada. O torcedor tem de entender que, nesses primeiros jogos, vamos ter dificuldade para atacar. Por isso também comecei trabalhando a marcação. Se estiver confiante atrás, pode apresentar melhora na posse de bola e no ataque. Nos dois testes que tivemos até agora (um coletivo e um jogo-treino, com sete gols marcados no total), nosso time teve aproveitamento ofensivo bom. Mas neste início precisamos fazer o feijão-com-arroz. Não posso complicar muito para os jogadores. É o simples.

Sua fama de linha-dura é verdadeira?
Todo técnico gaúcho tem essa fama, não tem jeito (risos). Gosto de profissionalismo. O jogador não pode pensar que pode fazer tudo, toda hora. Tem que ter disciplina. Mas sou adepto do diálogo, sempre. Quando o atleta tem um problema fora de campo, que venha conversar comigo. Tive um problema com o Anderson (hoje no Manchester United-ING) no Grêmio. Ele tem um caráter invejável. Mas eu era cobrado porque ele tinha rótulo de craque e de que podia fazer qualquer coisa. Tanto dentro como fora de campo. E eu o segurei um pouco. Foi bom para a carreira dele. Hoje ele joga no Manchester como volante e arrebenta. E o pessoal reclamava que eu pedia para ele marcar (risos).

"Com um time desentrosado, a parte ofensiva fica prejudicada. O torcedor tem de entender que, nesses primeiros jogos, vamos ter dificuldade para atacar"
Mano Menezes, técnico do Corinthians, sobre o início de 2008
Nelson Coelho
Diário de S.Paulo
Mesmo criticado, Fábio Ferreira ficou por um pedido de Mano, que aposta nele

No final do ano passado, dois jogadores do Corinthians, os zagueiros Zelão e Fábio Ferreira, foram acusados de abusarem das festas no prédio onde moravam. Zelão foi embora (vendido ao Saturn-RUS), mas o Fábio ficou. Qual foi o critério utilizado e você já conversou com o Fábio sobre o assunto?
O critério foi técnico. O Fábio é um zagueiro rápido, que tem velocidade. Acho que tem tudo para se tornar um dos grandes da posição. E sim, eu tive uma conversa particular com ele para mostrar que para se tornar esse grande precisa ter cuidado fora de campo.

Lulinha sempre foi considerado fenômeno nas categorias de base do Corinthians. Ele conta até 297 gols marcados até agora na carreira, mas no profissional passou em branco em 2007. Como você pretende proteger o garoto, que só tem 17 anos?
Já disse que etapas foram cortadas nos casos do Lulinha, do Everton Ribeiro e do Dentinho. Temos de tentar reverter isso. Como? Utilizando eles da maneira correta. Terão oportunidade de entrar no decorrer dos jogos, vão começar algumas outras partidas, mas não serão os responsáveis por salvar o Corinthians.

Você acha que a categoria de base é fundamental para um clube?
Com certeza. É a maneira mais fácil de você contar com jogadores medianos. Esses, que não vão decidir partidas, mas precisam estar no elenco, não precisam ser comprados. Têm de ser feitos na base. E quando você dá sorte e surge um diferenciado você faz dinheiro para manter o trabalho dos garotos. Mas aí tem um problema: muitas vezes o trabalho de técnico, empresário e até de jornalista se confundem. O cara quer treinar, mas quer ganhar dinheiro com comissão em cima de jogador e ainda comentar sobre o time. Se você tiver profissionais sérios, que não façam isso, o trabalho rende.

"O craque tem dificuldade para ser treinador. Porque ele não entende que o cara que ele treina não consegue fazer aquilo que ele fazia"
Mano Menezes, sobre jogadores que viram treinadores

Você participa de negociações?
Não.

Marcel Rizzo
GLOBOESPORTE.COM
Mano acha que garotos, como Lulinha e Dentinho, não podem queimar etapas

Não pergunto financeiramente, mas de ligar para um atleta, convidá-lo a vir para o seu time...
Aí sim. E ligo com uma única intenção: saber se ele quer jogar no meu time. Porque não adianta você contratar um atleta que não esteja interessado em atuar em sua equipe. Teve um caso de 2006 para 2007, no Grêmio. Fui para a Portugal visitar minha filha, que estuda lá, e conversar com o Luiz Felipe Scolari. Nesse meio tempo, aproveitei para falar com o Diego Souza, que poderia voltar. Mas sem tocar em dinheiro.Por falar no Felipão.

Por que você acredita que atletas que não se deram bem na carreira como jogador têm sucesso como treinador? Tem o seu caso (jogou no Guarani de Venâncio Aires), o Felipão, o Luxemburgo...
Na minha opinião, o craque tem realmente dificuldade para ser treinador. Sabe por quê? Porque ele não entende que o cara que ele treina não consegue fazer aquilo que ele faz com tanta facilidade. O cara que foi mediano tem uma visão melhor do que pode tirar de cada time. Por isso que atacantes têm mais dificuldade. Normalmente são mais habilidosos e durante a carreira pouco se importaram com a parte tática.

"Se vou conseguir tudo isso (que conseguiu no Grêmio) aqui (no Corinthians), só com o tempo... Não dá para prever o futuro"
Mano Menezes, que saiu do Sul consagrado pelos gremistas

Você tem amizade com outros treinadores considerados tops? Três deles, por sinal, vão te enfrentar no Campeonato Paulista (Muricy Ramalho, pelo São Paulo, Vanderlei Luxemburgo, pelo Palmeiras, e Emerson Leão, pelo Santos).
Já morei com o Muricy. Quer dizer, no mesmo flat, em Porto Alegre. Quando fui dirigir o Grêmio, ele estava saindo do Internacional. Como ele é amigo do Sidnei (Lobo, auxiliar de Mano), jantamos algumas vezes, conversamos. Tinha bastante contato com o Caio Júnior, que foi meu jogador. Depois teve aquele atrito, mas ainda sou amigo dele (risos). (NR: Antes de Palmeiras x Grêmio, pelo Brasileiro de 2007, chegou ao ouvido de Mano que Caio reclamou da violência gaúcha. Mano respondeu que não adiantava ter óculos modernos para ser um técnico moderno. Caio tem coleção de óculos. O Verdão venceu por 2 a 0).

Divulgação
Site Oficial do Cruzeiro
Na saída do Grêmio, Mano foi homenageado pela torcida tricolor

Conte um pouco de sua carreira como jogador (zagueiro) e treinador.
Como jogador foi curta, no Guarani de Venâncio, por perceber que não teria sucesso. Depois comecei a treinar times da base, no Guarani, no Juventude, fiz estágio com o Paulo Autuori no Cruzeiro, e ia mesclando com trabalhos no profissional do Guarani. Até chegar à base do Internacional. Depois fui convidado para dirigir o 15 de Novembro de Campo Bom (RS), onde despontei. Foi ali, chegando à semifinal da Copa do Brasil (2004), que meu trabalho começou a aparecer. E só não vencemos por culpa nossa. Problema de premiação, que fez os jogadores entrarem emburrados em campo. E um time emburrado não ganha jogo (foi eliminado pelo Santo André).

Para fechar: você foi ídolo no Grêmio. Na sua despedida, contra o próprio Corinthians, muitas faixas e cartazes em sua homenagem foram levados ao Olímpico. Como um técnico consegue ser ídolo e será que você consegue o mesmo no Corinthians?
No Grêmio pesou demais o jogo em Recife (a Batalha dos Aflitos, em 2005, quando com homens a menos e com pênalti contra, o Grêmio conseguiu vencer o Náutico e voltar para a Série A). Foi uma coisa maluca, que nunca mais vai acontecer. E teve os dois títulos gaúchos, contra um Internacional, que investia muito mais que nós. Agora, se vou conseguir tudo isso aqui, só com o tempo... Não dá para prever o futuro.

Nenhum comentário: