domingo, 18 de maio de 2008

Torero - Coluna da Folha de São Paulo

JOSÉ ROBERTO TORERO

Ressacas

Times de futebol também sofrem de babalaze; algumas demoram tanto a passar que o jeito é beber para esquecer

BOÊMIA LEITORA, alcoólatra leitor, as ressacas podem ser terríveis. Aposto que vocês sabem disso. Quem nunca teve uma ressaca que atire o primeiro Engov!
Os sintomas variam, mas em geral a cabeça dói tanto que a gente pensa que os neurônios se revoltaram, pegaram martelos e estão quebrando tudo por lá. A boca fica tão seca que não há Amazonas que cure sua sede.
Há uma grande dificuldade de concentração (por exemplo, se você está de ressaca, já deve ter lido esta linha três vezes). E, como esta Folha pode estar sendo lida no café da manhã, nem vou falar em dores de estômago, náuseas e vômitos.
Como todos sabem, há dois tipos de ressacas: as de alegria e as de tristeza. As de alegria, é claro, vêm de comemorações. Geralmente são de champanhe ou cerveja e não duram tanto tempo. Já as de tristeza acontecem porque você teve um mau dia e tentou afogar-se em cachaça, rum ou gim. Estas são mais graves. Algumas demoram tanto a passar que o jeito é beber para esquecer a ressaca. Com os times de futebol dá-se o mesmo. Eles vieram de suas festas estaduais e muitos ainda estão de babalaze.
O Flamengo, por exemplo, perdeu do América do México porque estava curtindo sua alegre ressaca pelo campeonato do Rio de Janeiro. Mas ela foi tão grande que gerou a derrota na Libertadores, que, por sua vez, gerou outra ressaca, desta vez de tristeza. Porém, graças à vitória sobre o Santos B, a dor de cabeça já começa a passar.
A ressaca do Palmeiras também é compreensível. O time não ganhava o Paulista havia mais de uma década e tinha mesmo que comemorar. Mas na próxima rodada já estará livre dos eflúvios etílicos e deve voltar a jogar bem.
Por outro lado, os ressacados-tristes se deram mal. O Goiás, por exemplo, que perdeu a final do Estadual para o Itumbiara (e com duas derrotas), mostrou que ainda não se recuperou completamente.
Tanto que perdeu para o Náutico, que vem de uma ressaca pernambucana. Na próxima semana, o Goiás enfrenta outra equipe com sérios problemas ressacais: o Atlético-MG, que tomou seis doses da cachaça Cruzeiro na final do Mineiro. A ressaca é tanta que, mesmo em casa e contra dez reservas, o Atlético não venceu o Fluminense.
Sinal de que a dor de cabeça ainda vai durar algum tempo.
Mas ressaca mesmo foi a do Ipatinga. Após ser campeão estadual em 2005 e vice da Série B em 2007, foi rebaixado no Mineiro de 2008.
Uma grande decepção. E promete ser longa, pois começou perdendo em casa. Talvez, no final do ano, haja a ressaca do rebaixamento.
Por outro lado, há alguns (dos quais tenho profunda inveja) que resistem às ressacas, como Inter e Cruzeiro. Ganharam seus Estaduais, com goleadas nas finais, e venceram na primeira rodada do Brasileiro. O Cruzeiro, fora de casa.
O Inter, com os reservas.
Estes abençoados são como aquele colega de escritório que, na sala do cafezinho, no dia seguinte à esbórnia de fim de ano, te pergunta. "Não brinca?! Você ficou de ressaca? Engraçado, eu não senti nada."
E depois sai assobiando.
E aí você joga a cafeteira na cabeça dele.

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