sábado, 12 de abril de 2008

A Máquina de Moer Craques

Reproduzirei um post do Blog do Torcedor do Corinthians da Globo.com.

E me desculpem a má educação, mas você que picha o muro do seu próprio time, desmoralizando o jogador que vc teria que torcer, vai pichar o &*@# da sua mãe de roxo!

A Máquina de Moer Craques



Peço desculpas pelo texto enorme. Mas acho que o tema merece. Leia abaixo umas mal traçadas sobre a vida e a morte de um craque – que acaba de fazer 18 anos de idade.

O que vc aí, maloqueiro, maloqueira, fazia da vida quando tinham oito anos de idade? Eu, deixa eu ver... coça, coça, coça.... ah: eu estava na segunda série da Escola Estadual Professor Demosthenes Marques. Lembro que eu gostava da pizza vendida na cantina durante o recreio e do sanduíche de aliche. Minha professora chamava Dona Lourdes. Na frente da escola tinha um boteco que vendia doces (abóbora, geléia, maria mole) e sorvete de massa daquelas máquinas que você escolhia o nome pela cor: mgroselha, uva, laranja. Só a cor mudava, o gosto era mais ou menos o mesmo. Na esquina tinha uma banca de jornal onde eu comprava gibi e do lado a loja da Dona Guiomar, que vendia os decalques que eu punha no trabalho da escola.
- “Pô Edsô, eu lá quero saber da sua infância, eu quero saber é do Corintia, meu!” vai dizer um Fiel mais popeiro aí.
Calma, mané. Estou dando a volta toda para dizer o seguinte:
O Lulinha entrou no Corinthians com 8 anos de idade.
Isso não é chocante? Um moleque com 8 (OITO) anos já entra num clube.
Eu estou até vendo: começa com o pai todo feliz e orgulhoso, pensando “Pô, este moleque joga bola”. Aí os amigos do pai, os vizinhos, os parentes. Pô, esse moleque joga bola.
Na escola, a molecada diz: “pô, esse moleque joga bola”.
Esta criatura ouve há pelo menos 10 anos – em sua vida que tem 18 – que joga bola pra caramba. Que é o tal. Passou pela peneira, fez do infantil pra frente ouvindo, todos os dias, alguém dizer: este moleque joga bola.
Se isso, por si só, não estragar a cabeça de alguém, eu jogo fora minha camisa autografada pelo Sócrates.
Quando fez 16 – dezesseis anos – a família assinou um contrato de três com o Timão. Já tinha empresário – que agora chama Agente Credenciado Pela FIFA. Quem procurou a família para se assenhorar da carreira do Lulinha foi o senhor Wagner Ribeiro.
Depois de ganhar tudo o que tinha direito no Terrão e virar o dono da bola na Seleção Sub-17, Lulinha chegou a auge. Ele tinha 17 anos. Isso faz um ano.
Há um ano, Lulinha foi elevado à condição de Maior Esperança de Revelação. A badalação começou em dezembro de 2007, às vésperas da Copinha, quando ele, já titular da 10 canarinho, foi apontado como “o cara” do Timãozinho.
Vinha de uma temporada em que tinha feito 27 gols em 26 partidas pelo Paulistinha. Depois veio o Sul-Americano Sub-17, em que ele gastou a bola.
Aí a porca começou a torcer o rabo. Na época o técnico do Timão era o Leão, treinador que detesto desde os tempos em que vestiu a nossa número 1. Mas, no entanto, porém, não posso deixar de reconhecer qualidades que, mesmo um cara que detesto, tem. Dia desses, numa dessas mesas redondas, Leão dizia que encontrou este ano no Santos um ambiente muito estranho, com alguns empresários reinando à beira do alambrado.
Talvez por isso, ele tenha resistido a subir o Lulinha para o profissional em março do ano passado. Parece que não gostava mesmo era de empresário com poder de mando no Departamento de Futebol do Corinthians.
No final de março, Wagner Ribeiro fez a seguinte declaração: "Nosso plano para a carreira dele é colocá-lo no time de cima do Corinthians, chegar à Seleção Brasileira adulta e depois atuar em uma equipe da Europa. Mas, se o Lulinha ficar fora do time profissional agora, nós vamos rever esse plano". Com uma multa rescisória de R$ 4 milhões, valor baixo para quem já era comparado a Ronaldinho, Ribeiro ameaçava abertamente o Corinthians, dizendo que tentaria vendê-lo antes mesmo de passar pelo profissional, caso Leão não subisse o moleque.
A pressão de Ribeiro valeu, Lulinha subiu para o profissional. Depois de 27 jogos, Lulinha fez o primeiro gol como profissional contra o Barras, em fevereiro passado. Para quem era artilheiro nas categorias de base, o resultado de sua primeira temporada no profissional foi pífio.
Em novembro passado, enquanto o Timão agonizava no Brasileirão, o agente da FIFA atacou de novo, com ajuda da imprensa. Começou a “aparecer proposta” de levar o moleque pagando a multa rescisória.
Real Madrid, Barcelona e Chelsea seriam alguns dos interessados. E é curioso ler as matérias da época: tudo sai assim no condicional, com “ria” - estaria interessado, teria vontade de comprar, teria enviado um emissário ao Brasil etc. Eu pergunto: a quem interessa este tipo de jornalismo?
De repente, o Lulinha – que não vinha jogando nada – começou a virar promessa de novo. E, num passe de mágica, o contrato que valia até 2009 foi refeito. Nova multa rescisória: R$ 92 milhões, com validade até 2012. Salário reajustado, 25% dos direitos federativos do próprio Lulinha e 75% do Corinthians. Ribeiro, que começou pedindo 40% dos direitos para si, foi curiosamente bondoso e aceitou este acordo.
Faz uma semana mais ou menos o Lulinha se escalou para entrar no jogo contra o Norusca. Devia estar passando um filminho na cabeça: ele esmerilhando, fazendo o gol, saindo carregado como herói da classificação do Timão no quadrangular final do Paulistão 2008. Seria a volta por cima.
Anteontem, uns espíritos de porco foram até o Parque São Jorge e escreveram o que uma parte da torcida anda pensando dele. Picharam o muro do lugar onde um garotinho de 8 anos de idade chegou um dia com um par de chuteiras na mão e a cabeça cheia de sonhos.
O texto certamente não fazia parte destes sonhos: Fora Lulinha!

Esta é a brevíssima história de como funciona uma máquina de destruir craques. Deixo aos jornalistas a tarefa de ir a fundo nesse caso que está matando o futebol brasileiro, literalmente, no nascedouro.

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